ADEUS À ECONOMIA DE MERCADO

ADEUS À ECONOMIA DE MERCADO.*

Perspectivas de uma transformação diferente e não apenas na Alemanha.

Robert Kurz

O balanço intermediário da unidade alemã é arrasador. Mesmo em condições favoráveis, uma transformação da Alemanha Oriental em economia de mercado só poderia ter êxito a um preço que poria em cheque os próprios fundamentos da civilização. Que sentido pode ainda ter uma luta por rentabilidade, competitividade, participação no mercado e êxito abstrato segundo critérios do sistema de produção de mercadorias, quando a derrota concorrencial permanente dos outros se abate reflexivamente com força cada vez maior sobre os vencedores? A irrupção da miséria, a transformação de regiões inteiras em desertos, a progressiva destruição social e ecológica revelariam como desvairada até mesmo uma economia de mercado que continuasse funcionando estritamente em seu próprio domínio. Nunca houve vitoriosos mais tristes.

Contudo, é de se temer que nem mesmo uma transformação em economia de mercado ocidental por uma via que seja triste e destrutiva e com altos custos sociais possa ser possível. O sistema de economia de mercado já não funciona nem em seu próprio campo, porque cresceu além de seus próprios critérios. Como a crise da unificação alemã constitui somente um caso específico de uma crise mundial geral, em última análise também não pode ser superada de maneira isolada, e muito menos por uma externalização dos problemas por meio do mercado mundial. Pelos motivos expostos, não há nenhuma chance de exportação da crise para fora no velho estilo, mediante uma retomada de pressões político-militares. Só isso já bastaria para tornar proibitiva uma saída em que se apelasse para o antigo Estado nacional e a caduca consciência nacional, embora a unificação surpreendente e apressada tenha lembrado às mentes mais simples justamente essa opção. O "nacionalismo da crise" não pode ser mantido; no pior dos casos ele pode tornar-se catalisador da prova de fogo interna e da rápida barbarização das condições de vida.

Apesar e justamente por causa disso, uma mera "expectativa crítica" seria a atitude mais perigosa e menos inteligente na crise em sua marcha inevitável. Porém a obrigação do analista e do teórico não é oferecer uma solução para a superação da crise. A tarefa da análise crítica consiste apenas em explicitar as contradições imanentes de fato existentes e não se apavorar nem mesmo com um cenário da pior hipótese, no sentido de uma limitação absoluta para o sistema – mesmo com o risco de o analista ser tachado de cínico, pelo fato de ser testemunha incorruptível e falsamente responsabilizada pelo cinismo objetivo de um sistema inviável e decadente. A produção conceitual vigente, acorde com o sistema e rezando pela economia de mercado, desde os sábios da economia e os conselheiros governamentais até os realistas do Partido Verde, não é apenas superambulante; dia a dia ela se cobre de mais ridículo. A procura de um conceito de superação compatível e em concordância com o sistema vigente de produção de mercadorias torna-se absurda na medida em que a crise é originada justamente pelo fato de os mecanismos básicos do sistema já não funcionarem. Mais isso evidentemente não pode ser o fim de nenhuma perspectiva social. A opção entre funcionar no âmbito da economia de mercado ou não funcionar de modo algum, essa alternativa realista de todos os partidos já é uma opção pela barbárie.

Torna-se necessário pensar para além do sistema de economia de mercado, produtor de mercadorias, e de seu maquinário de utilização econômica abstrata (juntamente com as formas políticas correspondentes). Em princípio, essa colocação do problema é irritante, tanto a leste como a oeste, porque na história bipolar do pós-guerra o récem-falido socialismo de Estado sempre se apresentou, na avaliação própria e na de seus oponentes, como alternativa histórica para a economia de mercado ocidental. Para um pensamento ainda tolhido nesse contexto, deve parecer um acinte dizer que o socialismo de Estado foi apenas uma variante da história da implementação do moderno sistema de economia de mercado, e que seu fim anuncia provavelmente a crise dos fundamentos comuns de todas as modernas sociedades produtoras de mercadorias. Mas a linguagem dos fatos não pode ser permanentemente ignorada. Até agora todos os prognósticos e esperanças dos defensores da economia de mercado e dos superdemocratas, desde o aparecimento de Gorbatchev, e sem exceção, deram errado.

O necessário pensar além da economia de mercado precisa ser ao mesmo tempo um pensar além do antigo contexto e de suas alternativas ilusórias. Pela primeira vez deparamos com um desenvolvimento pleno da modernidade em um sistema capitalista global em crise, e sua superação nada mais terá a ver com tudo o que se chamava de revolução ou socialismo no âmbito da velha história da modernização. O que lhes diz respeito ainda constitui momento e parte da formação do sistema de trabalho abstrato, produtor de mercadorias, ainda que continuamente tenha havido lampejos utópicos e por vezes até reacionários de idéias contrárias à sociedade do trabalho abstrato da modernidade. Mas trata-se agora de uma tarefa que se fez concreta, trazida à ordem do dia pelo próprio sistema mundial plenamente realizado e catastroficamente transformado, que talvez seja bastante prosaica e deva ser traduzida em determinadas medidas práticas. Por isso também já não há demanda para o chamado "pensamento utópico", pois a utopia só servia como falsa estrela de Belém da história da modernização.

O que de fato se revelou como uma atitude antiquada foi a chamada luta de classes, porque ela só pode se comportar como luta distributiva ou de desenvolvimento no interior do invólucro mercantil, que agora pela primeira vez se encontra efetiva e praticamente à nossa disposição. E à clara luz da crise sistêmica real tudo parece diferente (e menos romântico) do que à meia-luz do alvorecer do próprio sistema. Isso evidentemente não significa que não haverá mais agitações e conflitos sociais sob a crise; muito pelo contrário, tais desavenças são inevitáveis e se tornarão tanto mais agudas quanto mais os executantes da política no governo, na política, nos sindicatos e no patronato insistirem nos critérios insustentáveis do sistema. Mas a luta social torna-se sem perspectiva, aproximando-se da barbárie na medida em que permanece de sua parte no âmbito dos critérios sistêmicos (emprego, dinheiro). Agora, antes de mais nada, o sistema precisa ser apreendido e superado como tal, isto é, como uma conexão estrutural nuclearmente sem sujeito ("fetichista"), para que se possa submeter a reprodução da sociedade mundial, que ameaça sair do eixo, a um controle racional.

O sistema mundial não pode ser superado no antiquado âmbito dos estados nacionais, e certamente haverá necessidade de medidas internacionais e globais para dar conta da crise progressiva. Mas também a superação real do sistema de produção de mercadorias será tão contraditória quanto o foi seu surgimento. A crítica prática da forma-mercadoria e do trabalho abstrato continuará ela mesma operando com lamentos isolados do sistema de mercado; a superação da política no sentido vigente aparecerá ela mesma na consciência como política; e a regulação supranacional para além dos critérios da economia nacional precisa começar com os velhos Estados nacionais. Só à primeira vista, de maneira superficial e formal, pode essa assertiva lembrar o falido socialismo de Estado. Na verdade, este não tinha nenhuma perspectiva além da produção de mercadorias, da máquina estatal e da nação. Ao contrário, ele reproduziu no contexto obsoleto da modernização atrasada todos os critérios sistêmicos da economia de mercado, isto é, da prática de mercado, congelando-as numa perspectiva em última análise insensata de um "mercado planejado pelo Estado". Na sociedade mundial constituída impõe-se agora desconectar gradualmente a reprodução da forma-mercadoria e do dinheiro, sem abrir mão das conquistas positivas da modernidade. Essa desconexão não pode consistir em um fortalecimento da máquina estatal, como no socialismo real, regulamentando burocraticamente o mercado; o Estado moderno é somente o lado reverso do mercado. Entretanto é preciso levantar a questão de como se pode, na situação histórica de crise sistêmica, se organizar uma vida social, além das instancias fetichistas anônimas, cegas, do mercado e da máquina estatal. É só nessa perspectiva de uma desconexão da vida com o mercado e com o Estado é que se tornam possíveis passos realistas que incluam ações pragmáticas e um trato operativo com elementos do sistema.

De nada adiante querer retomar atropeladamente a alguma regulação de mercado pelo Estado, por causa do recente fracasso de conceitos monetaristas e orientados pela oferta, como pretendem, por exemplo, diversas variantes da inexpressiva esquerda acadêmica. Isso vale até mesmo para o keynesianismo, aparentado a isso, e que foi apenas o elemento do socialismo de Estado da economia de mercado ocidental. O recente e freqüente apelo a um retorno do keynesianismo é apenas o reconhecimento da falta de perspectivas e de saídas dos conceitos da economia de mercado. Por esse prisma, a última mudança de estratégia da administração Kohl no inverno de 1992 nada promete de bom. Os fatos contrariam os bem-dotados ideólogos neoliberais da academia e das associações econômicas, que, longe da realidade do mercado, cantarolam a melodia da "mão invisível". Os calejados praticantes da política e das atividades econômicas começam a não mais suportar essa melodia:


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# Nos andares da chefia, é chique quem duvida dos mecanismos da economia de mercado [...] A velha estirpe de políticos da ordem encontra-se hoje sob suspeita ideológica, é considerada incompetente, equivocada ou simplesmente antiquada. Os ortodoxos também já não podem confiar no governo de Helmut Kohl. Ludwig Erhard é uma figura do passado, e no lugar da vigente retórica do "mercado-torna-tudo-possível" estão as palavras tabu dos anos 70: política industrial, direcionamento de investimentos, conceito estrutural, acordos regionais. Kohl, que assumiu há dez anos o executivo como um conservador político da ordem, mudou de lado no décimo ano de governo [...] Acerca da triste situação, aparentemente a equipe de Kohl já não tem ilusões [Der Spiegel, n.51, 1992].

Porem essa dramática reviravolta no fim de 1992 não se originou da reflexão, mas da necessidade. Uma vez que a lógica da economia de mercado não é superada por conceitos keynesianos (de política industrial, etc), mas ocorre simplesmente uma nova polarização na relação de Estado e mercado como as duas instancias fetiche, por essa via os problemas não podem ser solucionados e apenas são adiados. Por isso a mudança de estratégia de Kohl é até desagradável para os sindicatos e a social-democracia, cujos programas reaparecem de repente no CDU (com reminiscências nostálgicas em relação ao programa anticapitalista de Ahlen, em 1947): "O político da industrialização Kohl provoca perplexidade entre social-democratas e sindicalistas. ‘O que ainda resta para ser cobrado do governo?’, reclama um confidente do presidente do sindicato dos metalúrgicos Franz Steinkühler. O porta-voz econômico do SPD, Wolfgang Roth, declara desnorteado: No intervalo de um ano, Kohl fez tudo o que nós reivindicamos’" (Der Spiegel, op.cit.).

Esses galanteios mútuos no plano da política econômica, com os quais talvez já se anuncia uma grande coalizão de emergência, já contém em germe a falência comum. A mudança de lado de Kohl não é desagradável para os social-democratas e os sindicatos apenas por razões de concorrência sócio-política, mas porque a adoção das suas propostas e exigências (em grande parte de um keynesianismo vulgar) para o programa de governo justamente pelo seu adversário conservador poderia revelar a inutilidade pratica das mesmas. Nas condições vigentes de uma limitação nacional e ao mesmo tempo global do sistema de produção de mercadorias, não há outra possibilidade além do "keynesianismo associal" de uma administração da crise contra os rendimentos sociais e das massas. Por esse motivo o keynesianismo, o mais tardar até o final dos anos 70, havia perdido a eficácia; e a reação neoliberal não foi apenas imposta exteriormente e em termos de poder político, mas refletia problemas estruturais reais não mais solucionáveis como meios keynesianos. Na hipótese de uma pressuposição cega do sistema de mercado, os argumentos dos neoliberais não eram simplesmente falsos. A fonte de todos os fluxos monetários, em quaisquer dimensões, foi e continua sendo o processo de mercado, e, quando este fracassa, já não adianta um rearranjo keynesiano dessas dimensões, o que simplesmente abre novas clareiras em outro lugar. Tal como um retorno ao socialismo de Estado, também a implantação keynesiana ou político-industrial de "um pouco de socialismo de Estado" pode ter utilidade mínima na gloriosa economia de mercado.

Portanto, como aparentemente o repertório conhecido está esgotado, é preciso fazer alguma coisa diferente e nova, algo que até agora não existiu. Sem dúvida a desvinculação entre o processo de vida e de reprodução social e as categorias do sistema produtor de mercadorias será um procedimento difícil e perigoso, que deverá virar totalmente pelo avesso o modo de vida vigente e o velho capitalismo. Um pressuposto absoluto, e a ser imposto por todos os meios para todo restante, é a ruptura radical com toda a barbárie etno-racista e radical de direita. Neste tocante não se pode transigir. Sobretudo a esquerda tradicional precisa se despir de alguns resíduos interpretativos se não quiser se converter em força contraproducente na luta contra a ameaçadora canalização da energia da crise para a barbárie. Uma compreensão do caráter sistêmico da crise além do velho contexto da luta de classes torna necessário reagir também de um modo sistematicamente refletido ao novo racismo e radicalismo de direita; isto é, não mais apenas atribuindo-os de maneira curta e grossa (no sentido de um grupo de pressão agindo estrategicamente) ao capital, equivocadamente apreendido como hipersujeito, segundo o modelo de uma teoria conspirativa. A barbárie resultante da própria incapacidade funcional dos critérios sistêmicos precisa ser combatida de maneira conscientemente não-ideológica, ou seja, precisamente sem os pressupostos ideológicos da definitivamente superada história da implementação do sistema produtor de mercadorias.

O caráter de barbárie pós-moderna reside em já não ser ela capaz de nenhuma formação ou organização ampla, nacional, social ou de qualquer outro tipo. Até certo ponto, ela própria é "negativamente a-ideológica", isto é, exprime o fim da modernidade e seus critérios à sua maneira inconsciente, na medida em que os restos ideológicos etno-racistas, neonacionalistas e anti-semitas já não têm coerência ou derivação pseudocientífica de fôlego, apesar das tentativas de desenvolver pensamentos radicais de direita e sem embargo de lamentáveis tentativas de concepções racistas da sociedade; ao contrário, são utilizados como legitimação disponível para a ação direta do desprezo bárbaro pela humanidade e da hostilidade aos homens.A nova barbárie se vincula diretamente à "cultura da ação" sem palavras da mídia capitalista e de suas subculturas. O curto alcance dessa consciência da ação a torna destrutiva ainda em outro sentido, além daquele do antigo fascismo. Os etno-racistas senhores da guerra na ex-Iugoslávia, os chefes de clãs nas milícias de Mogadício ou em Beirute e figuras semelhantes no Tadjiikistão, no Cáucaso, etc. têm quando muito possibilidades de encetar uma economia de saque, ou seja, não representam nenhum futuro social, nem pela perspectiva ditatorial negativa segundo o modelo das antigas ditaduras de implementação da sociedade de mercado, mas representam apenas a decadência informe da civilização. Manifestações semelhantes ocorrem no crescente domínio da máfia e na onda de crescente violência do crime na América Latina. Mas isso não significa que a barbárie pós-moderna é mais fácil de controlar ou mais inofensiva que o fascismo histórico – muito pelo contrário. Sua natureza diferencial induz ao temor de que, uma vez convertida em fluxo principal da sociedade, já após duas ou três gerações ela impossibilite o retorno a um desenvolvimento civilizatório. A decomposição da sociabilidade organizada e civilizatória numa existência em bandos, violenta e com resíduos de ideologia racista e assassinas ameaça introduzir uma forma evolutiva da crise da modernidade produtora de mercadorias que já não pode ser refletida intelectualmente, porque nesse contexto já não é possível refletir sobre a sociedade.

Por enquanto ainda não sabemos como essa forma evolutiva poderia ser nos paises mais desenvolvidos da Europa ocidental e central; mas esse conhecimento, que talvez seja o último dos conhecimentos sociais, bem que deveria ser poupado. Até agora ficou demonstrado que o nacionalismo e a barbárie etno-racista na Comunidade Européia e também na Alemanha não tem condições hegemônicas majoritárias e anticulturais políticas como reação à crise. Mas, como tal aptidão não corresponde à natureza da nova barbárie, esse "fato democrático" tantas vezes lembrado tampouco deveria estimular uma desatenção. Mesmo sem maioria numérica, a barbárie poderá e deverá desfigurar e destruir a civilização humana por outra via que não a da esfera política oficial. E são inteiramente obscuros os modos de reação e de comportamento que se constituem num plano mais avançado do processo de crise. Os anos de 1989 a 1992 foram talvez apenas os instantes iniciais do susto após o primeiro tremor, e a enorme crise efetiva ainda está por vir.

Apesar disso, evidentemente, as importantes manifestações contra a barbárie etno-racista não podem de modo algum ser subestimadas. É certo que havia uma determinada dose de hipocrisia em jogo, principalmente por parte da classe política, que antes havia ela mesma estimulado o debate sobre o asilo. Também o velho e conhecido humanismo-choramingas da classe média ocupou a cena como de hábito. Mas dessa vez as manifestações públicas foram bastante além do alcance dos políticos, dos democratas profissionais e das seitas morais. Com vários milhões de participantes, estas foram na Alemanha as maiores manifestações de massa da história, maiores do que em todos os grandes eventos na história da modernização deste século ou do século passado. Portanto uma massa imensa de cidadãos comuns de todas as idades e proveniências sociais participaram pela primeira vez como manifestantes dos protestos públicos, passeatas e cortejos do último trimestre de 1992. Um fato desses não se pode resumir apenas nas formas exteriores mais ou menos infantis (cortejos de tochas, etc.) nem ser simplesmente tachado de uma manifestação de hipocrisia; cumpre avaliar com calma. Enquanto não se sabe o que está por vir, desqualificar altivamente todas as iniciativas das pessoas comuns em resistir contra a barbárie ameaçadora seria apenas uma condenável arrogância dos eternos sabichões e, portanto, hipocrisia.

Mesmo que essas manifestações tímidas tenham ocorrido em nome da normalidade capitalista e da esperança de que tudo permaneça tal como está, ainda assim a própria ação extraordinária já representa o reconhecimento de que assim como está não pode continuar. Há portanto três pontos importantes nessas manifestações de massa: em primeiro lugar, a aceitação, pelo menos implícita, da crise como crise; em segundo lugar, a recusa consciente e pública da nova barbárie como reação possível à crise; e em terceiro lugar a ação própria que já vai além da trilha democrática oficial como início possível de uma atividade social contínua e outra forma possível de reação ao processo de crise. Essa nova atividade se mostrou não apenas nas manifestações públicas e nas passeatas mas também em um grande número de ações e iniciativas no cotidiano de empresas, bairros, instituições, etc., e até do próprio patronato. É claro que essa primeira reação em massa à nova barbárie ainda não passou pela sua prova definitiva. Mas a partir dela muita coisa pode ser feita, enquanto a classe política e a esquerda não estragam essa chance com discórdias equivocadas. Só tolos completos, que não se dão conta da periculosidade da situação, podem se recusar a combater os riscos da nova barbárie com argumentos ideológicos de quaisquer tipos.

Mas um enfrentamento conscientemente a-ideológico da nova barbárie não deve ser confundido com tentativas de elaboração sócio-pedagógicas, quase terapêuticas, e nem com o chamado diálogo político. Essas duas formas de reação tipicamente democráticas passam totalmente ao largo do caráter do fenômeno a combater. Elas pressupõem um contexto que já não corresponde à realidade: ou seja, uma normalidade capitalista em funcionamento, em que ovelhas democráticas subjetivamente perdidas poderiam e deveriam ser terapêutica ou politicamente reintegradas. Mas como o próprio sistema de mercado da modernidade, e com ele suas formas subjetivas, está falido, esta seria uma iniciativa inteiramente inadequada e sem esperança. A nova barbárie foi gerada ela própria sistematicamente, objetivamente, pela crise. Não há nada a ser reintegrado, e uma identidade radical de direita, etno-racista, não é capaz de discussão. A desistência de, contrariamente aos fatos, procurar derivar a nova barbárie do cálculo estratégico subjetivo da classe capitalista nada tem a ver com inocentar terapeuticamente o fenômeno. Justamente porque a crise sistêmica sem sujeito provoca uma degradação tão bárbara da consciência, seus portadores também não podem ser aceitos como sujeitos aptos ao discernimento e à discussão. Por mais cuidado que se deva ter na comparação entre fenômenos sociais com processos físicos ou biológicos, nessas situações a comparação é até certo ponto adequada. Assim, como pervertidos sexuais, doentes mentais, acidentados cerebrais e viciados em drogas não são abandonados como seres humanos, quando tratados como incapacitados e por vezes retirados compulsoriamente da convivência social, assim deveria ocorrer com os sujeitos da nova barbárie radical de direita. Por suas atitudes eles se colocam fora da civilização humana, e essa situação só pode ser respondida com legítima defesa.

Isto não significa que ante o ameaçador terror radical de direita se imponha única e exclusivamente formas violentas de defesa, embora estas também não devam ser excluídas. Tão importante quanto isto é enfrentar o racismo cotidiano de maneira verbal e argumentativa, enquanto ainda se encontra no antecampo de sua irrupção aberta, denunciando a insensatez de seu balbucio. Porém aqui não se trata de ilusões terapêuticas ou dialógicas, mais sim de uma sinalização pública, de isolamento da nascente insensatez das formas bárbaras de reação, marcando-as definitivamente como incapazes de oferecer satisfação social. Isso nada tem a ver com propostas sócio-pedagógicas para jovens em regiões de crise; mas qualquer compreensão tem um limite dado pelo momento em que propostas desse tipo ou outras são feitas a jovens radicais de direita. Já não é hora de imaginar que seja possível tratar essas manifestações pelo serviço social como se fossem uma subcultura bizarra. Afirmações segundo as quais uma certa medida de racismo e radicalismo de direita fazem parte da "normalidade da democracia" não são apenas ilustrativas da moderna democracia) o reconhecimento de que esta contém em si o germe da barbárie), mas, na situação atual da nascente crise mundial, preparam uma nova Munique** no seio da sociedade diante da neobarbárie. O radicalismo precisa ser combatido com toda a energia e descompromissadamente pelo que ele realmente é: inimigo puro e simples da civilização.

É justamente uma reação não-ideológica adequada à crise que exige clareza extrema a esse respeito. Para poder agora elaborar pragmaticamente soluções parciais, firmar alianças e compromissos amplos etc., a opção radical de direita precisa ser sufocada desde o início, mesmo quando não pareça capaz de ser majoritária. Caso contrário, todo o resto pode ser esquecido. A constatação de que nesse sentido não se pode confiar na classe política de praticamente nenhum partido, e de que esta, muito pelo contrário, revela afinidades catastróficas com o radicalismo de direita e em muitos sentidos é ela própria estruturalmente radical de direita, não deve implicar o abandono das diferenciações, e, num modo aparentemente radical de esquerda, a desistência de ações comuns, por precárias que sejam, contra o perigo terrorista da nova barbárie. Mas mesmo assim não é possível evitar a revelação das afinidades estruturais da classe política oficial com o radicalismo de direita, para poder tiraram disso conclusões práticas. Os momentos de vinculação são, em primeiro lugar, o populismo estrutural do sistema da economia de mercado e, em segundo lugar, o que é mais atual, o "partenalismo de crise", que ameaça juntar-se ao keynesianismo associal. Populismo estrutural, paternalismo de crise e keynesianismo associal são elementos básicos de uma estratégia de dominação regressiva, autoritária e em última análise aberta ao radicalismo de direita, que surge como por conta própria da crise sistêmica sem sujeito e que inegavelmente caracteriza a classe política alemã. Jogada de lá para cá pelos processos antagônicos da integração européia ocidental interrompida pela própria crise da reunificação nacional, a política alemã se posiciona obliquamente em relação ao espectro partidário, com as costas viradas para o desenvolvimento cego do capitalismo e o olhar confuso dirigido ao passado.

Está mais do que evidente que a maioria das grandes ações de massa contra a nova barbárie racista e nacionalista não foi iniciada pelos quadros da classe política mas, no melhor dos casos, com a participação de suas bases e de seus integrantes não-proeminentes e de inúmeras iniciativas particulares externas à política institucional, por grupos locais, sociais ou profissionais etc. sem mandato oficial. Muita coisa lembra os aparentemente extintos novos movimentos sociais dos anos 80. E talvez nisso se pudesse encontrar o germe de uma nova qualidade, desde que o processo de iniciativas autônomas fosse mantido também em relação a outros problemas da crise: o início de uma despotencialização de há muito necessária da classe política, e que coincide em termos de perspectivas com a transformação do sistema de mercado. Uma idéia dessa pode inicialmente ser recusada pela maioria dos participantes, mas talvez aqui valha de outra maneira, que se espera seja emancipatória, o lema: "Eles não sabem, mas fazem".

De qualquer modo, uma reação civilização à crise mal pode se restringir à defesa contra a barbárie da direita radical, sem enforcar a própria causa da crise. Se objetivamente já não é possível um retorno à normalidade capitalista, e se a débil e aparente luta entre a política oficial e o radicalismo de direita parece se encaminhar conjuntamente para a barbárie, então torna-se obrigatória a formação de uma terceira posição. A iniciativa não-oficial das massas contra a barbárie precisa tomar nas mãos os outros planos não-habituais da coisa, conduzindo a uma amplitude maior a reprodução social no âmbito do exaurido dualismo entre mercado e Estado.

Na crise específica da unificação alemã, o ponto de partida numa iniciativa dessa será constituído pela falência previsível da economia de mercado na Alemanha Oriental, e que é mediatizada pelo começo da crise mundial. Embora o Leste alemão seja a parte mais atrasada da nova Alemanha unificada, talvez seja nesse território que na Alemanha amadurecerá em primeiro lugar a alternativa entre barbarização, de um lado, e superação do sistema mercado-Estado, de outro. Uma vez que a velha economia estatal faliu e a nova economia de mercado é impotente, o Leste alemão tornou-se uma terra de ninguém teórica e estrutural, que é a parte mais desenvolvida pelo menos com referencia à crise e que, portanto, suscita novas imposições para ação; não há outra possibilidade. Mesmo assim a crise só pode ser superada civilizatoriamente de maneira conjunta pelo Leste e pelo Oeste, seja na Alemanha, seja na Europa em geral. Um populismo regional alemão oriental seria um caminho para a barbárie da mesma forma que um enviesado democratismo de mercado mundial da Alemanha Ocidental, que pretenderia atribuir falsamente os excessos racistas apenas ao atraso alemão oriental para retomar o antigo sossego de sua normalidade abundante (à custa dos derrotados na competição capitalista pelo mundo afora).

O temor justificado diante de experimentos utópicos novos (segundo seu modo de ver) de um Estado solar que na RDA, contudo, parecera bastante medianamente de modo bem mais lunar, só os próprios alemães do Leste podem evitar. Trata-se de constatar que podem ser ainda menos felizes com a economia de mercado nas condições vigentes do que com a enferrujada máquina estatal de Honecker, e que se requer uma superação histórica concreta do problema que, apesar ou justamente por causa da vinculação entre Estado e mercado, já não precisa realizar princípios abstratos. Da mesma maneira que a superação e a eliminação da ameaçadora barbárie, também a transformação social e econômica nesses termos só pode ser não-ideológica, pragmática, conjuntural e diferenciada no tempo e no espaço. Soluções novas e diferenciadas precisam ser buscadas ali onde mercado e Estado já não funcionam e onde o desespero social é ameaçador.

Um plano do problema da falência combinada de Estado e mercado é a política externa alemã oriental. Nenhum país e nenhuma macro-região de um país das dimensões da Alemanha Oriental pode manter o nível civilizatório sem vinculação com estruturas internacionais de reprodução; simultaneamente, porém, os antigos mercados ocidentais encontram-se bloqueados ou eles mesmos em crise. As subvenções estatais, elevadas ao absurdo, não se sustentam ou levam a nada. Nesses termos, permanece como única referência real a forma, ridicularizada e assumida a contragosto, da mediação natural por meio de negócios de escambo e countertrade. Enquanto essas relações naturais continuarem a ser entendidas como saída emergencial, mantendo-se sua condução conforme critérios de rentabilidade econômica e de racionalidade de mercado, elas só podem expressar a miséria, mas não eliminá-la. Mas por que não seria possível fazer dessa necessidade, de um modo diferente e novo, uma virtude? Se forem levadas a sério, essas relações naturais geradas a partir da insustentabilidade de mediações regulares por via do mercado, consideradas como perspectiva autônoma e desenvolvidas como circuito reprodutivo sistêmico específico, poderiam se tornar elementos de uma transformação nova do sistema de mercado.

As crianças sofridas do socialismo de Estado talvez se levantem apressadamente contra uma tal proposta, vendo nela nada mais do que uma reconstituição do antigo sistema de rublos de transferência. Mas isso seria um duplo equívoco. Pois, em primeiro lugar, as relações externas mediante o sistema de rublos de transferência, irregular do ponto de vista da economia de mercado, assentavam-se em exigências nacionais burocráticas do planejamento abstrato do Estado, determinadas e impostas por ele. Agora, ao contrário, estaria em causa que as empresas libertadas das amarras dos planos da economia estatal, e ameaçadas de liquidação pelos critérios cegos e impositivos do sistema de mercado ocidental, possam contatar, por si mesmas e sem burocracia, antigos e novos parceiros nas outras economias falidas, começando a instalar um sistema de fornecimentos mútuos controlado por baixo (pelas empresas) e não subordinado a um plano estatal abstrato, nem às leis do mercado ocidental. E, em segundo lugar, esse poderia ser um sistema que em seu próprio circuito não opera mais em categorias monetárias por meio de critérios de equivalência de troca de mercadorias, mas conforme grandezas naturais, de acordo com critérios de necessidades sensíveis ou de possibilidades ecológicas. Se, de qualquer maneira, relações naturais constituem o ponto de partida, isso poderia ser um estimulo a ordenar também naturalmente, conforme critérios ecológicos, a referida transferência de recursos.

Evidentemente, não será possível (nem seria desejável) instalar um circulo reprodutivo e de transferência de recursos inteiramente independente de qualquer relações externas da Alemanha Oriental e da do Leste europeu. Se as empresas alemães orientais incluídas precisaram fazer os balanços e as contas com os fornecedores em marcos alemãs, isso só será possível com subvenções monetárias parciais. Mas isso ainda seria melhor e mais adequado do que o subvencionamento a fundo perdido. Por outro lado, um desenvolvimento ulterior das relações naturais entre empresas não será possível se, ao mesmo tempo, não for limitada a liberdade de consumo no mercado, ou seja, sem que ao menos parte do salário monetário atual apareça sob forma de bens naturais. O que nesse contexto pode aparecer como salário parcialmente natural, seria em perspectiva elemento da dissolução da relação salarial como um todo. Os empregados de tais empresas teriam de concordar em receber, no lugar de dinheiro, bens de consumo de qualquer tipo do circuito de reprodução natural com os parceiros orientais. Momentos assim seriam inevitáveis, porque muitos dos produtos inteiramente apropriados só podem ser produzidos em parcelas mínimas de modo rentável, conforme critérios do mercado mundial, e vendidos nos mercados ocidentais. Em última análise, seria o começo de uma superação da lógica econômica abstrata "a partir do interior", e, portanto, pela iniciativa própria das empresas e por um encadeamento daí resultante, em lugar de um híbrido planejamento econômico estatal exterior aos empreendimentos. Uma perspectiva assim pode inicialmente parecer primária, mas talvez ainda seja melhor do que esperar, em humilhação e desânimo, pelo investidor ou pela morte sócio-econômica.

A salvação da economia externa graças à implementação de relações mútuas poderia ser ampliada e complementada por momentos sociais internos de auto-administração e auto-abstecimento regional ou municipal, principalmente no âmbito da produção e distribuição de víveres e de uma série de prestações de serviços. Também formas de reprodução microencadeadas poderiam ser desconectadas das leis monetárias e de mercado, ou seja, organizadas ao mesmo tempo fora do Estado e do mercado. A diferença com relação a certas ilhas de auto-abastecimento no velho socialismo de Estado também nesse caso seria a desconexão das velhas reivindicações abstratas de planejamento do Estado, substituídas por uma auto-organização comunitária. Formulado do ponto de vista sócio-político, tanto nas relações internas como nas relações externas se trataria de um "inter-relacionamento pela base" que parcialmente e até em grandes proporções abstrai de critérios monetários e de mercado. Ao mesmo tempo, tais formas deveriam se colocar primeiramente em múltipla co-existência com o sistema de mercado nacional e internacional. Não se trata de fazer tabula rasa, instalando à maneira de Procusto um novo princípio geral abstrato, como se tornou característico das economias de Estado e de mercado da modernidade. Mas trata-se de superar situações insustentáveis, alcançar soluções mediante ações diversificadas, encontrando por meio da prática o que e onde é possível e útil, sem se fixar em determinados critérios sistêmicos para tudo e em qualquer situação.

A referencia a pequenas redes de auto-abastecimento e auto-administração pode lembrar o discurso do grupo de Biedenkopf do CDU e seus "pequenos ambientes vitais", do valioso auxílio mútuo etc. Como primeiro-ministro do Estado de Sachsen, Kurt Biedenkopf procurou implementar idéias desse tipo numa tentativa de resolver o problema da reunificação. Uma vez que o Ocidente não poderia ser alcançado a curto e médio prazos nos termos da economia de mercado, a Alemanha Oriental precisaria ter objetivos parciais alternativos e desenvolver cultura regionais próprias etc. Tudo isso pode até ser bem-intencionado em face da crise econômica e do neonacionalismo, Contudo, em primeiro lugar, conceitos alternativos de modo algum podem limitar-se a meras culturas de oásis, mas precisam abranger parcelas maiores da reprodução efetiva (por exemplo, incluir setores do comércio externo etc.). Em segundo lugar, coloca-se a questão da própria reação com a economia de mercado. Concepções alternativas são totalmente inconfiáveis quando se mantêm os objetivos oficiais de uma transformação nos termos da economia de mercado e os "pequenos círculos", as culturas não-monetárias etc. tornam-se meras soluções emergenciais para equilibrar déficits e catástrofes da economia de mercado. Em terceiro lugar, finalmente, quando se trata de uma transformação diferente da reprodução efetiva, coloca-se também a questão da obtenção de recursos reais – não é possível viver apenas de moral, intenções humanistas e ética nas relações como o próximo. Nos lugares onde a coisa não funciona, é preciso efetivamente abandonar a tentativa de uma mediação via mercado de recursos reais conforme critérios de mercado, e esses recursos (prédios, meios de produção etc.) precisam ser colocados à disposição de uma auto-administração e auto-abastecimento não-monetário e comunitário.

Isso significa também abandonar a ideologia da privatização determinada nos termos da economia de mercado e interromper e voltar atrás especialmente na restituição da velha propriedade particular, que ameaça desalojar muitos alemães do Leste. Como, de qualquer maneira, o sistema habitacional capitalista não funciona mesmo, e muito menos ainda na Alemanha Oriental, enquanto, por outro lado, é impossível uma subvenção estatal na dimensão requerida, o solo e a maior parte do estoque habitacional poderiam ser retirados do processo de mercado (o que seria simultaneamente um golpe decisivo na especulação), porem sem que esses recursos fossem estatizados. Em vez disso, eles seriam transferidos para a auto-administração dos moradores, que deveriam então organizar eles próprios um saneamento (por exemplo, com trabalho próprio, financiamentos comunitários etc.). Justamente por meio da habitação se poderia demonstrar que é possível viver muito bem sem as amarras dos critérios da rentabilidade, desde que essas imposições sistêmicas cegas não sejam substituídas pela estatização, mas pelo auto-atendimento e pela auto-administração dos homens (não como recaída no mero mundo privado ou, pior ainda, na estrutura familiar, mas como outra forma de socialização).

De modo geral, fica demonstrado que a formulação de objetivos alternativos precisa libertar-se da moralização sem compromissos e da ortodoxia oficialista da economia de mercado. A iniciativa pessoal (em oposição à administração burocrática estatal compulsória) não precisa necessariamente assumir a forma da procura abstrata do lucro. A meta de concepções alternativas, mais do que simplesmente remendar a economia de mercado, é chegar à superação efetiva do modo de vida fordista profundamente interiorizado no cotidiano pelo mercado e pelo capital. Dessa maneira se coloca para os alemães do Leste a questão da possibilidade de reviver de modo novo e diferente alguns momentos de sua vida anterior que foram abandonados com excessiva pressa: não, por exemplo, a segurança de salário e pão na custódia do Estado, mas muitos frutos colaterais e rejeitos do socialismo de Estado freqüentemente involuntários e muitas vezes não notados, ou seja, as formas da cooperação não-oficial, do auto-abastecimento, da produção em pequena escala etc. Com o avançar da crise, também os corifeus alemães ocidentais do mercado mundial, por mais que se recusem, terão de tomar parte nessa orientação nova e diferente. Provavelmente será difícil não só recuperar essas formas de vida, apesar de sua desmoralização desde o outono de 1989, mas até mesmo aperfeiçoa-las como alternativas para a reprodução social a partir de sua existência limitada e mofada. Mas não há muito mais o que fazer quando se quer evitar a queda na barbárie. Pois a economia de mercado, por fim e com inevitabilidade mortal se verá às voltas com aquilo que constitui o resultado de seu progresso cego e sem sujeito: a guerra civil.

* Capítulo de O retorno de Potemkin. 1993

** Alusão ao começo do nazismo (N.T.)